Entre as palmeiras gigantes do Valle de Cocora
Entre as palmeiras gigantes do Valle de Cocora
Confesso que estava nervoso quando a chiva colorida me deixou na entrada do parque – espera, não foi bem nervoso, talvez ansioso seja mais preciso. Tinha visto tantas fotos do Valle de Cocora no Instagram que começava a questionar se a realidade conseguiria estar à altura das expectativas. Sabes aquela sensação quando tens medo de que um lugar famoso te decepcione? Era exatamente isso que sentia enquanto pagava os 15.000 pesos colombianos de entrada, com o telemóvel já a mostrar 78% de bateria (detalhe importante que vou explicar mais tarde).
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A primeira coisa que me surpreendeu foi o barulho. Não esperava tanto movimento logo de manhã – eram cerca de 8h30 quando cheguei, e já havia pelo menos trinta pessoas à minha volta. Turistas alemães com mochilas enormes, famílias colombianas com crianças pequenas, e eu ali no meio, tentando perceber qual era efetivamente o trilho principal. O mapa que me deram estava meio desgastado e, honestamente, não ajudava muito.
Mas depois vi a primeira palmeira de cera.
E aí tudo mudou. Não é exagero dizer que fiquei literalmente de boca aberta – uma dessas reações embaraçosas que só admitimos depois. A altura daquela coisa era… bem, como é que hei de explicar? Imagina um prédio de 15 andares, mas fino, elegante, quase irreal. Tentei logo tirar uma foto, claro, mas o telemóvel simplesmente não conseguia capturar a imensidão. Era frustrante e libertador ao mesmo tempo.
Naquele momento percebi que os próximos dias iam mudar completamente a minha perspetiva sobre o que significa “paisagem natural”. Não sabia ainda, mas estava prestes a descobrir que o Valle de Cocora não é apenas um destino fotogénico – é uma experiência que te obriga a repensar a tua relação com a natureza.
A chegada ao Valle de Cocora – Primeiras impressões que te vão surpreender
O que ninguém te conta sobre chegar lá
A viagem desde Salento foi uma aventura em si mesma. Os famosos Willys – aqueles jipes antigos que parecem saídos de um filme dos anos 50 – supostamente saem de meia em meia hora. “Supostamente” é a palavra-chave aqui, porque o meu atrasou-se 20 minutos. Não que me importasse muito, até porque aproveitei para tomar um café na praça principal (2.000 pesos – anota aí, vais precisar desta informação mais tarde).
O condutor do Willys era um senhor que devia ter uns 60 anos e conhecia cada buraco da estrada. Literalmente cada buraco, porque comentava todos: “Aqui há um grande”, “Cuidado com este”, “Este apareceu na semana passada”. A viagem de 30 minutos transformou-se numa espécie de documentário sobre o estado das estradas colombianas.
Claro que me esqueci do powerbank. Sempre me esqueço do powerbank quando mais preciso dele. O telemóvel começou o dia com 100% de bateria, mas entre as fotos da viagem, a tentativa de usar o GPS para me orientar (que não funcionou porque não havia sinal), e a consulta constante das horas, já estava nos 60% quando cheguei ao parque.
A primeira deceção foi a quantidade de pessoas. Eu tinha esta ideia romântica de que ia estar sozinho com as palmeiras gigantes, talvez encontrar um ou dois viajantes contemplativos pelo caminho. A realidade foi bem diferente: havia grupos de turistas por todo o lado, guias com megafones (sim, megafones!), e vendedores ambulantes a oferecer de tudo, desde água a ponchos impermeáveis.
Mas foi precisamente um desses vendedores que salvou o meu dia. O Don Carlos – assim se apresentou – vendia café acabado de fazer numa garrafa térmica. Por 3.000 pesos, deu-me não só o melhor café que bebi na Colômbia, mas também as melhores dicas sobre os trilhos. “Mijo, se quer ver as palmeiras grandes sem tanto turista, vá pelo caminho da esquerda, não pelo da direita que toda a gente segue.”
As palmeiras de cera – Gigantes que desafiam a nossa perspetiva
Dimensões que o Google não consegue transmitir
Quando digo que as palmeiras de cera são altas, não estou a falar de “ah, são mais altas do que esperava”. Estou a falar de uma altura que desafia completamente a tua perceção de escala. A primeira vez que consegui ver uma palmeira completa – da base até ao topo – tive de me afastar uns 50 metros e mesmo assim inclinar a cabeça para trás de uma forma desconfortável.
Para te dar uma ideia mais concreta: vivo num prédio de 12 andares em Lisboa, e posso garantir-te que muitas destas palmeiras são mais altas. Algumas chegam aos 60 metros – é como olhar para a Torre de Belém, mas mais fino e orgânico. A diferença é que estas “torres” cresceram naturalmente ao longo de décadas, algumas com mais de 100 anos.
Tentei tocar numa das palmeiras que estava mais próxima do trilho. A casca tem uma textura completamente diferente do que imaginava – não é lisa como parece nas fotos, mas tem uma espécie de padrão em relevo, quase como se fosse tecido. É difícil de descrever, mas lembra-me vagamente a textura de uma corda grossa, só que mais suave.
O problema técnico das fotografias tornou-se evidente rapidamente. Como é que fotografas algo de 50 metros de altura quando estás a dois metros de distância? Tentei a técnica panorâmica do telemóvel, mas o resultado ficou distorcido. Tentei afastar-me, mas havia sempre outras palmeiras ou vegetação a bloquear a vista completa. Foi frustrante, mas também me forçou a estar mais presente no momento em vez de estar constantemente preocupado em capturar a imagem perfeita.
Senti-me ridiculamente pequeno, e não é só uma expressão. Há qualquer coisa de humilhante – no bom sentido – estar ao pé de seres vivos que existem há décadas e que vão continuar a existir muito depois de nós. Fez-me pensar sobre escala temporal, sobre a nossa pressa constante, sobre como passamos a vida a olhar para baixo (para os telemóveis) em vez de olhar para cima.
O ecossistema único que descobri por acaso
O que mais me surpreendeu foi descobrir que o Valle de Cocora não é apenas sobre palmeiras gigantes. Há todo um ecossistema a funcionar ali, e eu só me apercebi disso porque parei para descansar e começei a prestar atenção aos detalhes.
Primeiro, os beija-flores. Nunca tinha visto tantos beija-flores juntos – pequenos pontos de cor que se movem tão rapidamente que quase parecem efeitos visuais. Consegui observar pelo menos três espécies diferentes, embora não faça ideia dos nomes científicos. Um deles, verde-metálico com reflexos azuis, passou tanto tempo numa flor próxima de mim que consegui filmá-lo durante quase um minuto completo.
O microclima entre as palmeiras é fascinante. Quando está sol, a temperatura pode chegar aos 25 graus, mas basta entrares numa zona mais densa de palmeiras para sentires uma diferença de pelo menos 5 graus. É como se as palmeiras criassem as suas próprias zonas de sombra e humidade. Ao final da tarde, quando o sol começou a descer, essa diferença tornou-se ainda mais pronunciada.
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Uma descoberta pessoal interessante foi perceber como a temperatura varia ao longo do dia. De manhã, por volta das 9h, estava fresco – precisei de uma camisola leve. Ao meio-dia, estava calor suficiente para andar só de t-shirt. Às 16h, quando as nuvens começaram a formar-se (coisa que acontece quase todos os dias, segundo o Don Carlos), voltou a esfriar rapidamente.
Infelizmente, também me apercebi do impacto das mudanças climáticas. Conversei com um guia local que me explicou que as palmeiras de cera estão sob pressão. O aquecimento global está a alterar os padrões de chuva na região, e estas palmeiras precisam de condições muito específicas para sobreviver. Algumas das palmeiras mais jovens que ele conhecia há 10 anos já não estão lá. É uma realidade preocupante que adiciona uma camada de urgência à visita – quem sabe se as próximas gerações vão poder ver isto da mesma forma?
O trilho completo – Guia prático baseado na minha experiência real
Preparação que realmente importa (não é o óbvio)
Vou ser direto: esquece metade do que lês nos guias turísticos sobre o que levar para o Valle de Cocora. A maior parte das listas são genéricas e não refletem a realidade do terreno. Baseado na minha experiência (e nos meus erros), aqui está o que realmente precisas:
Roupa: Este foi o meu maior erro. Levei uma t-shirt, uma camisola leve e achei que estava preparado. Errado. A variação de temperatura ao longo do dia é brutal. De manhã cedo precisas de uma camisola ou até um casaco leve. Ao meio-dia vais querer estar só de t-shirt. À tarde, quando as nuvens chegam, volta a esfriar. A solução é camadas – leva uma t-shirt, uma camisola que possas tirar e pôr facilmente, e um corta-vento leve para o caso de chover.
Calçado: Ténis normais chegam perfeitamente para o trilho básico. Não precisas de botas de montanha, como alguns guias sugerem. O trilho está bem marcado e não é tecnicamente difícil. Eso sí, certifica-te de que são ténis confortáveis porque vais caminhar durante pelo menos 2-3 horas.
Dica monetária número 1: Não compres água no parque. Uma garrafa de 500ml custa 4.000 pesos lá dentro, mas podes comprar a mesma garrafa por 1.500 pesos na loja ao lado da paragem dos Willys em Salento. Leva duas garrafas – vais precisar.
A questão do sinal de rede é importante para planeamento. Há sinal no início do trilho e em alguns pontos mais altos, mas durante grande parte do percurso vais estar desconectado. Se dependes do GPS do telemóvel para te orientares, esquece. Descarrega um mapa offline ou, melhor ainda, segue os outros caminhantes – o trilho é suficientemente popular para não te perderes.
O percurso passo a passo (com as minhas hesitações)
A primeira decisão que tens de tomar é: trilho curto ou trilho longo? O trilho curto leva-te às palmeiras principais e demora cerca de 1-2 horas (ida e volta). O trilho longo inclui a ponte suspensa, a cascata e uma vista panorâmica, mas pode demorar 4-6 horas dependendo do teu ritmo.
Eu escolhi o trilho longo. Não porque fosse particularmente aventureiro, mas porque tinha tempo e curiosidade. Foi uma decisão que questionei várias vezes ao longo do dia.
Os primeiros 30 minutos são relativamente fáceis – terreno plano, palmeiras espetaculares de ambos os lados, muitas oportunidades para fotos. É nesta parte que a maioria das pessoas fica e depois volta para trás. Se só tens uma manhã, honestamente, esta parte pode ser suficiente.
Aos 45 minutos comecei a questionar as minhas escolhas de vida. O trilho torna-se mais íngreme, o terreno mais irregular, e começas a perceber porque é que tantas pessoas voltam para trás. Não é difícil no sentido técnico, mas é cansativo, especialmente se não estás habituado a caminhar em altitude (o valle está a cerca de 2.400 metros acima do nível do mar).
A primeira pausa estratégica fiz numa zona com sombra, cerca de uma hora depois de começar. Não vou mentir – precisava de descansar. A altitude afeta-te mais do que esperas, mesmo que estejas em boa forma física. Aproveitei para beber água, comer uma barra de cereais que tinha trazido, e observar outros caminhantes. Muitos estavam claramente a sofrer mais do que eu, o que me fez sentir melhor sobre o meu próprio ritmo.
A descoberta exclusiva aconteceu por acaso. Cerca de 1h30 depois de começar, vi um pequeno trilho secundário que se desviava para a direita. Não estava marcado nos mapas, mas parecia bem usado. Decidi explorar e encontrei um miradouro improvisado com uma vista incrível sobre o vale. Não havia mais ninguém ali – foi o meu momento de solitude que tinha procurado desde o início.
Gestão de tempo realista
Os guias dizem que o trilho longo demora 4 horas. Na realidade, demorei 5h30, incluindo pausas. E não sou particularmente lento – vi pessoas que claramente iam demorar 6-7 horas.
O clima influencia drasticamente a duração. Se começar a chover (coisa que acontece frequentemente à tarde), o trilho torna-se mais escorregadio e tens de ir mais devagar. Se houver muito nevoeiro, podes perder-te facilmente nos troços menos marcados.
Dica monetária número 2: Se planeias fazer o trilho completo, negocia com o condutor do Willys para te vir buscar mais tarde. A tarifa normal é 4.000 pesos por pessoa, mas se garantires a viagem de volta, muitos condutores fazem desconto. Poupei 2.000 pesos desta forma, e ainda tive a garantia de transporte de volta sem ter de esperar.
O timing ideal, na minha experiência, é começar às 8h30-9h. Consegues fazer a maior parte do trilho antes do calor do meio-dia, e ainda tens margem para o regresso antes das chuvas da tarde (que normalmente começam entre as 15h e as 16h).
Fotografia no Valle de Cocora – Desafios e soluções práticas
A fotografia no Valle de Cocora é simultaneamente frustrante e recompensadora. Frustrante porque a escala das palmeiras torna quase impossível capturar a sua verdadeira grandiosidade. Recompensadora porque te força a ser criativo e a pensar fora da caixa.
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O problema dos reflexos e contraluz: As palmeiras estão frequentemente contra o céu, o que cria problemas de contraluz. A solução improvisada que encontrei foi usar a mão como “para-sol” natural, bloqueando parte da luz direta enquanto fotografava. Não é técnica profissional, mas funcionou.
A questão da bateria: O frio da manhã e a altitude fazem com que a bateria do telemóvel se esgote mais rapidamente do que o normal. O meu iPhone, que normalmente dura o dia todo, estava nos 30% ao fim de 3 horas. A solução foi ativar o modo de poupança de energia logo de início e resistir à tentação de fotografar tudo.
Armazenamento insuficiente: Erro de principiante – não verifiquei quanto espaço livre tinha antes de sair. A meio do trilho recebi o aviso de “armazenamento quase cheio”. Tive de apagar algumas fotos antigas ali mesmo, o que me fez perceber quantas fotos desnecessárias tinha no telemóvel.
A questão da partilha imediata versus experiência presente tornou-se um dilema constante. Havia momentos em que estava mais preocupado em conseguir sinal para fazer upload no Instagram do que em apreciar o que estava à minha frente. Foi preciso um esforço consciente para guardar o telemóvel e simplesmente estar presente.
Descobertas fotográficas inesperadas: O melhor horário para fotografar não é ao meio-dia, como pensava, mas entre as 10h e as 11h, quando há luz suficiente mas não demasiado contraste. As palmeiras ficam mais definidas e o céu mantém alguns detalhes.
Os ângulos não convencionais que funcionaram melhor foram as fotos de baixo para cima, focando apenas no tronco e nas folhas contra o céu. Tentei várias vezes capturar palmeiras completas, mas as fotos mais interessantes resultaram de enquadramentos mais abstratos.
Interagi com outros fotógrafos ao longo do trilho – um casal de franceses com uma câmara profissional partilhou algumas dicas sobre configurações para luz natural, e uma rapariga colombiana mostrou-me uma aplicação para identificar plantas que acabou por ser muito útil.
Impacto ambiental e turismo responsável – Reflexões pessoais
Uma das coisas que mais me marcou no Valle de Cocora foi tomar consciência do meu próprio impacto como turista. Não é uma reflexão que esperava ter, mas foi inevitável.
Observar o impacto dos visitantes foi revelador. Vi pessoas a partir ramos para fazer selfies, lixo deixado em trilhos secundários, e grupos grandes a fazer muito barulho em zonas onde a fauna selvagem estava claramente presente. Também fui parte do problema em alguns momentos – admito que deixei cair um papel de rebuçado sem me aperceber (só notei quando outro caminhante mo devolveu).
A conversa com o guia local sobre conservação foi esclarecedora. Ele explicou-me que as palmeiras de cera são uma espécie protegida, mas que o turismo em massa está a criar pressão sobre o ecossistema. Por um lado, o turismo traz receita necessária para a conservação. Por outro, o aumento de visitantes está a degradar os trilhos e a perturbar a fauna local.
A minha contribuição positiva foi pequena mas consciente: participei numa iniciativa de limpeza improvisada que encontrei no final do trilho (outros visitantes estavam a recolher lixo voluntariamente), e comprei produtos locais em vez de trazer comida de Salento.
O elemento cultural também foi importante. As palmeiras de cera são um símbolo nacional colombiano – estão até na moeda de 50 pesos. Para os locais, não é apenas uma atração turística, é parte da identidade nacional. Tentar compreender essa perspetiva mudou a forma como via o lugar.
Autocrítica honesta: também contribuí para o problema de sobrelotação simplesmente por estar lá. Cada visitante adiciona pressão ao ecossistema, e não há forma de contornar essa realidade. A questão é como minimizar o impacto e maximizar a contribuição positiva.
Informações práticas que realmente precisas
Custos reais (com base na experiência de fevereiro de 2025)
Aqui está o breakdown detalhado dos meus gastos, sem romantizar nem esconder nada:
Transporte:
– Willys de Salento para Valle de Cocora: 4.000 pesos
– Willys de regresso (com desconto negociado): 2.000 pesos
– Total transporte: 6.000 pesos (~1,20€)
Entrada e atividades:
– Entrada no parque: 15.000 pesos
– Não há custos adicionais para os trilhos
– Total: 15.000 pesos (~3€)
Comida e bebida:
– Café com Don Carlos: 3.000 pesos
– Água (2 garrafas compradas em Salento): 3.000 pesos
– Lanche no final do trilho: 8.000 pesos
– Total: 14.000 pesos (~2,80€)
Total do dia: 35.000 pesos (~7€)
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Comparei três opções de alojamento em Salento para quem quer fazer isto como uma excursão de um dia:
– Hostel básico: 25.000-35.000 pesos/noite
– Hotel médio: 80.000-120.000 pesos/noite
– Quinta rural: 150.000-250.000 pesos/noite
Testei o hostel básico (Tralala Hostel) e foi perfeitamente adequado – limpo, seguro, com pequeno-almoço incluído.
Melhor altura para visitar (opinião pessoal fundamentada)
Visitei em fevereiro de 2025, que supostamente é época seca. “Supostamente” porque choveu em dois dos três dias que estive na região. Mas isso não foi necessariamente mau – a chuva trouxe nuvens dramáticas que tornaram as fotos mais interessantes.
Vantagens de fevereiro:
– Menos turistas do que na época alta (dezembro-janeiro)
– Palmeiras mais verdes devido às chuvas recentes
– Temperaturas mais amenas (não demasiado quente ao meio-dia)
Desvantagens:
– Possibilidade de chuva à tarde (quase todos os dias)
– Alguns trilhos podem estar mais lamacentos
– Nevoeiro ocasional pode limitar a visibilidade
Não posso garantir, mas baseado nas conversas com locais, março e abril parecem ser meses ideais – menos chuva que fevereiro, mas ainda não demasiado seco.
O que levar e o que deixar em casa
Lista baseada em erros e acertos pessoais:
Levar definitivamente:
– Protetor solar (mesmo com nuvens, a altitude intensifica os raios UV)
– Camisola que possas tirar e pôr facilmente
– Powerbank (aprendi da forma difícil)
– Dinheiro em notas pequenas (muitos vendedores não têm troco para notas de 50.000 pesos)
– Saco pequeno para lixo (consciência ambiental)
Itens surpreendentemente úteis:
– Toalhitas húmidas (para limpar as mãos depois de tocar nas palmeiras)
– Elásticos para cabelo (mesmo para homens – o vento é constante)
– Aplicação offline de identificação de plantas (descobri espécies que não conhecia)
Coisas que pensei que precisava mas não usei:
– Bastões de caminhada (o trilho não é assim tão técnico)
– Comida elaborada (há vendedores ao longo do trilho)
– Câmara profissional (o telemóvel foi suficiente, e menos peso para carregar)
Reflexões finais – Entre o humano e o gigante
Passaram-se algumas semanas desde que visitei o Valle de Cocora, e ainda me pego a pensar naquelas palmeiras. Não é nostalgia romântica – é mais uma sensação de que vivi algo que mudou ligeiramente a minha perspetiva sobre escala, tempo e o meu lugar no mundo.
A experiência transformou a minha forma de pensar sobre turismo de natureza. Antes, via estes destinos como cenários para as minhas aventuras pessoais. Agora percebo que somos visitantes temporários em ecossistemas complexos que existiam muito antes de nós e que precisam de ser protegidos para continuar a existir depois de partirmos.
O momento de maior relutância em partir foi quando cheguei ao final do trilho e vi o Willys à minha espera. Havia qualquer coisa de definitivo naquele momento – sabia que provavelmente não voltaria tão cedo, e que a experiência que acabara de viver ficaria apenas na memória e nas (poucas) fotos que consegui tirar.
Enquanto escrevo isto, acabei de ver no Instagram que um amigo visitou o Valle de Cocora na semana passada. As fotos dele são melhores que as minhas, o tempo estava mais limpo, e ele conseguiu ver mais fauna. Senti uma pontada de inveja, mas também me fez perceber que cada visita é única – as condições, o estado de espírito, as pessoas que encontras, tudo contribui para uma experiência irrepetível.
Recomendação pessoal honesta: Vale a pena visitar o Valle de Cocora? Sim, definitivamente. Mas vai com expectativas realistas. Não é um lugar isolado e selvagem – é uma atração turística popular com multidões, vendedores e algum ruído. Também não é uma caminhada fácil se escolheres o trilho completo. Mas se conseguires ultrapassar essas limitações e focares-te no que realmente importa – a escala impressionante da natureza e a tua pequenez em comparação – vai ser uma experiência memorável.
Na verdade, acho que a melhor forma de descrever o Valle de Cocora é como um lembrete físico de que há coisas no mundo muito maiores e mais antigas do que nós. Numa época em que passamos tanto tempo focados em ecrãs pequenos e problemas imediatos, estar ao pé de seres vivos de 60 metros de altura e 100 anos de idade oferece uma perspetiva valiosa sobre escala e permanência.
Se decidires ir, leva tempo, leva paciência, e leva respeito pelo lugar e pelas pessoas que o chamam casa. E não te esqueças do powerbank.
Sobre o autor: João dedica-se a partilhar experiências reais de viagem, dicas práticas e perspetivas únicas, esperando ajudar os leitores a planear viagens mais relaxantes e agradáveis. Conteúdo original, escrever não é fácil, se precisar de reimprimir, por favor note a fonte.