Melgar: diversão familiar no clima perfeito
Melgar: diversão familiar no clima perfeito
Confesso que quando o meu cunhado sugeriu Melgar para as férias familiares, a minha primeira reação foi… onde fica isso mesmo? Espera, agora lembro-me que já tinha ouvido falar, mas sempre confundi com Girardot. Típico de mim, a sério. Estava ali no meio do trânsito de Bogotá, com a família toda no carro – crianças de 8 e 12 anos no banco de trás, sogros de 65 anos a discutir se tinham trazido os remédios – e eu a fazer pesquisa frenética no Google Maps enquanto esperava o semáforo.
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Para ser completamente honesto, não estava muito entusiasmado. Tinha na cabeça que seria mais um daqueles destinos “mornos” que prometem muito e entregam pouco. Sabe como é, quando se tem família numerosa, as expectativas são sempre um bocado… complicadas. A minha filha de 8 anos queria piscina e diversão, o rapaz de 12 já se achava crescido demais para “coisas de criança”, e os avós precisavam de conforto sem abrir mão da aventura.
Mas três dias depois, já estava a planear quando voltar. E não estou a exagerar – enquanto escrevo isto, acabei de receber uma mensagem da minha filha a perguntar quando é que voltamos lá. Isso diz tudo, não acham?
A verdade é que Melgar me surpreendeu de uma forma que não esperava. Não foi amor à primeira vista, admito. Chegamos num sábado de abril de 2025, com aquele calor típico das 2 da tarde, e o meu primeiro pensamento foi “pronto, vamos todos derreter aqui”. Mas descobri algo que nenhum guia turístico me tinha contado: Melgar tem uma magia própria quando se trata de clima familiar.
Porque Melgar conquistou a nossa família (e provavelmente vai conquistar a vossa)
Para ser honesto, estava preocupado com o calor – sou daqueles que sua só de pensar em 30 graus. Imaginem a minha surpresa quando descobri que o clima de Melgar funciona de uma forma quase… inteligente? As manhãs são frescas o suficiente para os avós aproveitarem um café na varanda sem reclamar, e as tardes, embora quentes, têm uma brisa que torna tudo suportável.
Digamos que aprendi isto da pior forma possível. No primeiro dia, saímos às 10h da manhã pensando que íamos aproveitar o “frescor matinal”. Resultado? Voltamos ao meio-dia com toda a gente a reclamar do calor. No segundo dia, ajustei a estratégia: saídas às 7h30 e às 16h. Funcionou como um relógio.
Mas o que realmente me conquistou foi perceber como Melgar é diferente dos outros destinos familiares que conhecia. Girardot sempre me pareceu demasiado caótico, Ibagué muito urbano, Honda… bem, Honda é bonito mas não tem a infraestrutura que uma família com crianças e idosos precisa. Melgar encontra aquele equilíbrio perfeito entre aventura e conforto.
Observei como as famílias colombianas usam este lugar e percebi que há uma sabedoria local que nós, turistas ocasionais, raramente captamos. Eles vêm aqui não só para se divertir, mas para se reconectar. Vi avós a ensinar netos a nadar, pais a redescobrir a alegria de brincar na água, famílias inteiras a partilhar refeições sem pressa.
Se tivesse de escolher os melhores meses para visitar com família, diria que abril a junho e setembro a novembro são ideais. Evitem dezembro e janeiro – são meses de férias escolares e tudo fica mais caro e lotado. Julho e agosto também podem ser complicados por causa das chuvas.
Enquanto escrevo isto, acabei de receber uma foto da minha sogra no WhatsApp – ela a mostrar às amigas as fotos da viagem. Isso, vindo de uma senhora que normalmente reclama de tudo, é praticamente um milagre.
O que fazer com crianças (sem enlouquecer os adultos)
Parques aquáticos – a nossa salvação e o nosso pesadelo
O Piscilago era o sonho das crianças e o meu receio secreto. Imaginem: um parque aquático gigante, centenas de crianças excitadas, e eu responsável por manter toda a família junta e feliz. Não, enganei-me, não é só para crianças – eu próprio acabei no tobogã mais vezes do que gostaria de admitir.

A primeira lição que aprendi foi sobre timing. Chegamos na abertura, às 9h, pensando que íamos evitar multidões. Erro crasso. O parque só aquece mesmo depois das 10h30, e até lá estava praticamente vazio mas com metade das atrações ainda fechadas. Na segunda visita (sim, voltamos), chegamos às 10h30 e foi perfeito.
Algumas dicas práticas que ninguém me contou e que podem poupar-vos dores de cabeça:
Levem protetor solar específico para água – aqueles normais saem todos. Aprendemos isto da pior forma quando a minha filha ficou vermelha como um camarão. Chinelos antiderrapantes são obrigatórios, não opcionais. Vi pelo menos três pessoas a escorregar nas zonas húmidas.
Para guardar pertences com segurança, há armários por todo o lado, mas custam 15.000 pesos por dia. A alternativa? Deixar tudo no carro e levar apenas o essencial numa bolsa impermeável. Foi o que fizemos no segundo dia e funcionou muito melhor.
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O maior problema que tivemos foi com a bateria do telemóvel. Entre tirar fotos, verificar as horas, e usar o mapa do parque, a bateria morreu antes do almoço. Solução: levem um power bank pequeno numa bolsa impermeável. Trust me, vão precisar.
Uma coisa que negligenciei completamente foi a hidratação das crianças entre atividades. Elas ficam tão entretidas que se esquecem de beber água. Resultado: a minha filha mais nova teve uma pequena dor de cabeça no final do dia. Agora levo sempre garrafas de água e obrigo-as a beber de hora a hora.
Atividades que surpreenderam (para melhor e para pior)
A surpresa positiva absoluta foram os passeios a cavalo. Estava convencido de que seria “coisa de criança”, mas até os meus sogros adoraram. O senhor que gere os cavalos, Don Carlos, tem mais de 30 anos de experiência e conhece cada animal pelo nome. Ele adaptou o passeio para que toda a família pudesse participar – percurso mais curto para os avós, cavalos mais calmos para as crianças.
Agora, a deceção… a tirolesa que parecia incrível nas fotos do Instagram. Bem, digamos que durou 30 segundos e custou 25.000 pesos por pessoa. Não que seja mau, mas as expectativas estavam lá em cima e a realidade foi… básica. As crianças gostaram, mas para o preço, esperava mais emoção.
A descoberta exclusiva que nenhum guia menciona: há um miradouro natural a cerca de 15 minutos a pé do centro da cidade, seguindo pela estrada que vai para Cunday. Não tem nome oficial, os locais chamam-lhe “El Mirador de los Enamorados”. O pôr do sol lá é espetacular, e é completamente gratuito. Descobrimos por acaso quando nos perdemos a procurar uma farmácia.
A interação com os locais foi uma das partes mais enriquecedoras da viagem. Numa das tardes, paramos numa pequena loja de sumos naturais e acabamos numa conversa de duas horas com a dona, Doña María. Ela contou-nos histórias da cidade, recomendou lugares que não aparecem em nenhum guia turístico, e até nos ensinou a fazer o sumo de lulo perfeito. As crianças ficaram fascinadas, e eu aprendi mais sobre Melgar nessas duas horas do que em toda a pesquisa que tinha feito antes.
Onde ficar: a nossa odisseia de alojamento
Reservei o primeiro hotel que vi no Booking… erro crasso. Parecia perfeito nas fotos: piscina, quartos familiares, pequeno-almoço incluído. A realidade foi um bocado diferente. O check-in foi uma confusão porque não tinham registo da nossa reserva (aparentemente um problema comum com algumas plataformas online), a piscina estava em manutenção, e o pequeno-almoço era… digamos, básico demais para uma família exigente.
Felizmente, a rececionista foi muito simpática e ajudou-nos a resolver a situação. Acabamos por ficar, mas aprendi algumas lições valiosas sobre alojamento em Melgar.

A comparação entre hotéis familiares e fincas é interessante. Os hotéis oferecem mais serviços – limpeza diária, receção 24h, por vezes pequeno-almoço – mas as fincas dão-vos mais espaço e privacidade. Com crianças e idosos, o espaço extra faz toda a diferença. Numa finca, os miúdos podem correr à vontade sem incomodar outros hóspedes, e os avós têm o seu cantinho para descansar.
Os prós dos hotéis: serviço, localização central, facilidade. Os contras: menos privacidade, quartos mais pequenos, preços mais altos durante épocas altas. As fincas têm o problema oposto: mais espaço e privacidade, mas menos serviços e às vezes localização mais afastada.
Uma dica de poupança específica que funcionou connosco: para estadias de mais de 3 noites, vale a pena negociar diretamente com o proprietário. Conseguimos um desconto de 20% numa finca para uma semana, simplesmente porque ligamos diretamente em vez de reservar online. Muitos proprietários preferem evitar as comissões das plataformas.
Do ponto de vista ambiental, descobrimos que muitas fincas em Melgar estão a adoptar práticas mais sustentáveis. A finca onde ficamos na segunda metade da estadia tinha painéis solares para aquecimento de água, sistema de recolha de água da chuva, e até uma pequena horta orgânica onde podíamos colher ingredientes para as refeições.
Se fosse hoje, escolheria diferente. Ficaria numa finca desde o início, mas numa localização mais central. O ideal é ter o melhor dos dois mundos: espaço e privacidade, mas sem estar muito longe das principais atrações.
Um aspeto prático que negligenciei completamente foi a importância do ar condicionado versus ventilação natural. Em abril, as noites são frescas o suficiente para dormir com ventiladores, mas durante o dia, especialmente se tiverem idosos no grupo, o ar condicionado pode ser necessário. Certifiquem-se de que funciona antes de se instalarem.
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Comida familiar: entre aventuras culinárias e crianças exigentes
Como satisfazer o paladar aventureiro dos sogros e as exigências da filha de 8 anos que só come massa e frango? Este foi o meu maior desafio culinário em Melgar.
A experiência do primeiro restaurante foi… educativa. Escolhi um lugar que parecia familiar, com menu variado e preços razoáveis. A comida estava boa, mas o serviço foi lentíssimo – mais de uma hora para servir 6 pessoas. Com crianças, isso é uma eternidade. A minha filha mais nova começou a ficar irrequieta, o que deixou toda a gente nervosa.
Já no segundo restaurante, tudo correu bem. Era um local mais simples, frequentado por famílias locais, com serviço rápido e eficiente. A descoberta gastronómica inesperada foi o sancocho tolimense – um prato que conquistou toda a família, incluindo as crianças. Quem diria que a minha filha exigente ia adorar uma sopa com tantos ingredientes diferentes?
A dica prática de poupança que mais funcionou foi alternar entre mercados locais e restaurantes turísticos. Nos mercados, comprávamos frutas frescas, sumos naturais, e alguns lanches para os passeios. Nos restaurantes, focávamos nas refeições principais. Isto permitiu-nos poupar cerca de 40% no orçamento de alimentação.
O elemento cultural mais interessante foi perceber como a comida conecta com as tradições locais. Numa das tardes, fomos convidados por uns vizinhos da finca para um almoço improvisado. Aprendemos a fazer arepas tolimenses e tamales, e as crianças ficaram fascinadas com todo o processo. Foi uma das experiências mais autênticas da viagem.

Pensei que não gostava de yuca, mas estava completamente enganado. Preparada da forma tradicional, com um molho de ají caseiro, é deliciosa. A minha estratégia para introduzir sabores novos às crianças foi simples: deixá-las experimentar pequenas quantidades sem pressão. Funcionou melhor do que esperava.
Planeamento prático: o que ninguém vos conta
Transporte e logística familiar
Saímos de Bogotá às 6h da manhã… nunca mais. Parecia uma boa ideia evitar o trânsito, mas com crianças pequenas e idosos, começar o dia tão cedo foi um erro. Toda a gente ficou mal-humorada, e demorámos mais tempo a recuperar do que poupámos na estrada.
A comparação entre opções de transporte é interessante quando se viaja em família. Carro próprio dá-vos flexibilidade total, mas também toda a responsabilidade. Transporte público é mais barato, mas com bagagem de família numerosa pode ser complicado. Tours organizados são convenientes, mas limitam-vos aos horários deles.
Para nós, o carro próprio acabou por ser a melhor opção, mas com algumas adaptações. Paramos de 2 em 2 horas para esticar as pernas, levamos lanches e entretenimento para as crianças, e planeamos o percurso para evitar as horas de maior trânsito.
A dica de poupança significativa: se vão ficar mais de 4 dias, considerem alugar um carro em Melgar em vez de levar o vosso. Os preços são competitivos, poupam combustível e desgaste do vosso veículo, e muitas empresas oferecem descontos para estadias longas. Conseguimos poupar 30% nos custos totais de transporte desta forma.
Quanto às apps úteis, o Waze funcionou perfeitamente para navegação, mas o Google Maps tinha informações mais atualizadas sobre atrações locais. Para pagamentos, descobrimos que muitos lugares ainda preferem dinheiro, por isso não dependam totalmente de cartões ou apps de pagamento.
Orçamento real (sem mentiras de influencer)
Vou ser completamente transparente sobre os custos, porque odeio quando os bloggers fazem de conta que tudo é barato.
Planeamos gastar cerca de 800.000 pesos para 6 pessoas durante 4 dias. Acabamos por gastar 1.100.000 pesos. A diferença? Gastos inesperados que ninguém menciona.
Primeiro, as entradas nas atrações são mais caras do que parecem online. Os preços que veem são geralmente para crianças ou dias de semana. Fins de semana e feriados têm preços diferentes. Segundo, as refeições em restaurantes turísticos custam facilmente 50% mais do que esperávamos. Terceiro, lembranças e souvenirs… bem, com duas crianças, é impossível sair de mãos vazias.
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Ninguém me avisou sobre os custos de estacionamento em algumas atrações (5.000-10.000 pesos por dia), nem sobre as “taxas de serviço” que alguns restaurantes cobram automaticamente.
As estratégias de poupança que funcionaram na prática: cozinhar algumas refeições na finca (poupamos cerca de 200.000 pesos), comprar lanches e bebidas em supermercados locais em vez de nas atrações (poupança de 30-40%), e negociar preços para atividades em grupo.
Para famílias, o valor está em maximizar experiências sem quebrar o orçamento. Descobrimos que algumas das melhores memórias – como o pôr do sol no miradouro ou a tarde com os vizinhos da finca – foram completamente gratuitas.

Lições aprendidas e porque voltaremos
O que faria diferente numa próxima vez? Primeiro, ficaria numa finca desde o início, mas numa localização mais central. Segundo, planearia menos atividades por dia – com família numerosa, é melhor fazer poucas coisas bem feitas do que tentar ver tudo. Terceiro, levaria mais roupa de banho para toda a gente. Parece óbvio, mas quando se passa o dia todo em atividades aquáticas, uma muda de roupa extra faz toda a diferença.
O impacto nas crianças foi muito além do que esperava. A minha filha de 8 anos ainda fala sobre o passeio a cavalo e já desenhou o Don Carlos pelo menos dez vezes. O rapaz de 12 anos, que normalmente está sempre no telemóvel, passou dias inteiros sem sequer se lembrar dele. Isso, por si só, já valeu a viagem.
Os momentos especiais com os avós foram inesperados e preciosos. Ver o meu sogro, normalmente tão sério, a rir-se no tobogã, ou a minha sogra a ensinar as netas a fazer arepas, foram momentos que nenhum de nós vai esquecer.
Esta experiência mudou a nossa perspetiva sobre turismo local. Percebi que não preciso ir para o outro lado do mundo para criar memórias incríveis com a família. Há tanta coisa para descobrir no nosso próprio país, e Melgar provou-me isso de forma inequívoca.
Descobri também que viajar com família numerosa não tem de ser stressante se planearem bem e mantiverem expectativas realistas. A chave é flexibilidade e paciência.
Já estamos a planear voltar, mas desta vez em setembro, quando há menos movimento e os preços são mais acessíveis. E já sabemos exatamente onde ficar, onde comer, e o que fazer.
A lição mais importante que aprendi? Às vezes, as melhores aventuras estão mais perto do que pensamos. Melgar está a apenas 3 horas de Bogotá, mas parece um mundo diferente. E quando se trata de criar memórias em família, a distância não é o que importa – é a qualidade do tempo que passam juntos.
Enquanto termino este artigo, a minha filha está a mostrar as fotos da viagem aos amigos da escola, e já ouço conversas sobre “quando é que vamos voltar”. Para mim, essa é a melhor recomendação que posso dar.
Se estão a considerar Melgar para as vossas próximas férias familiares, o meu conselho é simples: vão. Planeiem bem, mantenham expectativas realistas, e preparem-se para se surpreender. Às vezes as melhores aventuras estão mais perto do que pensamos.
Esta é apenas a minha experiência pessoal, baseada numa viagem em abril de 2025. As situações podem mudar com o tempo, por isso recomendo sempre confirmar informações atualizadas antes de viajar.
Sobre o autor: João dedica-se a partilhar experiências reais de viagem, dicas práticas e perspetivas únicas, esperando ajudar os leitores a planear viagens mais relaxantes e agradáveis. Conteúdo original, escrever não é fácil, se precisar de reimprimir, por favor note a fonte.