Nuquí: paraíso selvagem do Pacífico colombiano
Nuquí: paraíso selvagem do Pacífico colombiano
Por que é que ninguém me tinha falado deste lugar antes?
Estava a fazer scroll no Instagram numa manhã qualquer de fevereiro quando vi uma foto que me fez parar. Uma baleia jubarte a saltar completamente fora de água, com uma selva verde-escura como pano de fundo. O local? Nuquí, Colômbia. Nunca tinha ouvido falar.
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A minha primeira reação foi o ceticismo habitual. Mais um “paraíso escondido” que provavelmente já estava cheio de turistas e influencers. Mas havia algo naquela imagem… talvez fosse a luz dourada do pôr do sol ou a expressão de pura alegria da pessoa que tinha partilhado a foto. Fiquei picado.
Nuquí fica na costa do Pacífico colombiano, no departamento de Chocó. É um daqueles lugares que só consegues chegar de avião ou barco – não há estradas que te levem lá. Isso devia ter sido o primeiro sinal de que me estava a meter numa aventura a sério. Mas eu, na minha ignorância urbana, pensei “ah, deve ser como ir para os Açores”.
Spoiler alert: não é nada como ir para os Açores.
Enquanto escrevo isto em março de 2025, ainda me rio da minha ingenuidade. Quase cancelei a viagem três vezes. Primeiro porque vi que as previsões meteorológicas mostravam chuva todos os dias. Depois porque descobri que o WiFi era “limitado” (eufemismo para quase inexistente). E finalmente porque comecei a ter ansiedade sobre ficar desconectado do mundo durante uma semana inteira.
Que idiota que eu era. Três dias depois – não, espera, foram quatro dias, não três – estava literalmente a chorar no aeroporto de Medellín porque não queria partir. E não sou uma pessoa que chora em aeroportos.
A chegada que mudou tudo (e quase me fez voltar para casa)
O voo de Medellín para Nuquí é… uma experiência. Imaginem um avião que parece ter saído dos anos 80, com cerca de 20 lugares, e turbulência que vos faz questionar todas as vossas decisões de vida. Quarenta e cinco minutos que parecem três horas, com vistas espetaculares da selva quando consegues abrir os olhos.
Mas o verdadeiro choque foi o “aeroporto” de Nuquí. Chamem-lhe pista de aterragem com uma cabana ao lado. Não há pontes de embarque, não há carrosséis de bagagem, não há táxis à espera. Há um senhor simpático com um carrinho de mão para as vossas malas e uma vista para o Pacífico que vos faz esquecer temporariamente que estão no meio do nada.
A bateria do meu telemóvel estava a 15% e não havia sinal. Primeiro momento de pânico. Como é que ia contactar o alojamento? Como é que ia usar o GPS? Como é que ia fazer check-in no Instagram? (Prioridades, eu sei.)
Felizmente, há sempre alguém no aeroporto a oferecer transporte. A primeira oferta foi de 50.000 pesos colombianos (cerca de 12 euros) para me levar ao centro de Nuquí. Parecia-me caro para uma viagem de 10 minutos, por isso fiz algo que normalmente não faço: negociei. Acabei por pagar 30.000 pesos partilhando o transporte com um casal alemão que parecia tão perdido quanto eu.
Dica número 1: Sempre negociem o transporte do aeroporto e tentem partilhar com outros viajantes. Podem poupar 30-40% facilmente.
Para ser completamente honesto, os primeiros 30 minutos em Nuquí foram duros. O meu alojamento – uma pousada familiar que tinha reservado online – não era bem o que as fotos sugeriam. O quarto era básico, o chuveiro dava água morna quando tinha sorte, e o WiFi prometido existia apenas na receção, e mesmo assim era mais lento que a internet discada dos anos 90.
Estava ali sentado na cama, a olhar para o meu telemóvel sem bateria e sem sinal, a questionar-me se não devia apanhar o próximo voo de volta. Foi então que ouvi um som que nunca tinha ouvido antes: o respiro de uma baleia.
O que ninguém te conta sobre chegar a Nuquí
A infraestrutura é básica, e isso é um eufemismo. Não há ATMs, por isso levem dinheiro suficiente. A eletricidade às vezes falha. A água quente é um luxo. Mas aqui está a coisa: nada disso importa quando acordam de manhã e têm baleias jubarte a brincar literalmente à vossa porta.
A gestão de expectativas é fundamental. Se estão à espera de resorts com tudo incluído e WiFi de fibra ótica, Nuquí não é para vocês. Mas se querem uma experiência autêntica de natureza selvagem, com uma comunidade local acolhedora e vida marinha que vos vai deixar sem palavras, então preparem-se para se apaixonar.
Baleias jubarte: o espetáculo que me deixou sem palavras (literalmente)
A minha primeira saída para observar baleias foi marcada para as 6h30 da manhã do segundo dia. Confesso que estava cético. Já tinha feito whale watching nos Açores e, embora tenha sido fixe, não foi nada de extraordinário. Estava à espera de ver talvez uma barbatana ao longe e ter de fingir entusiasmo.
Como é que eu estava enganado.
Não, espera… enganei-me. Não foi na primeira saída que vi as baleias todas. Foi na segunda, no terceiro dia. A primeira saída foi um bocado dececionante – vimos apenas umas barbatanas ao longe e eu passei a maior parte do tempo a tentar não enjoar no barco pequeno.
Mas a segunda saída… meu Deus. Estávamos a cerca de 20 minutos da costa quando o guia, Don Carlos (um senhor de 60 anos que conhece estas águas como a palma da sua mão), apontou para a água e disse calmamente: “Ahí viene la madre con su cría.”
De repente, a cerca de 50 metros do nosso barco, uma baleia jubarte adulta saltou completamente fora de água. Completamente. Quarenta toneladas de mamífero marinho a desafiar a gravidade por alguns segundos mágicos. O som quando ela bateu na água foi como um trovão.
Fiquei literalmente sem palavras. Tentei tirar uma foto com o telemóvel, mas as minhas mãos tremiam tanto que todas as fotos saíram desfocadas. E sabem que mais? Não me importei nada. Estava demasiado ocupado a tentar processar o que acabara de ver.

Mas o melhor ainda estava para vir. A cria – um “bebé” de apenas algumas toneladas – começou a imitar a mãe. Salto após salto, como se estivesse a mostrar-se para nós. Don Carlos explicou-me que isto é comportamento típico durante a época de reprodução (julho a outubro). As mães estão a ensinar as crias e, aparentemente, mostrar força e agilidade faz parte do processo.
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Timing é tudo: quando e como ver baleias
A época das baleias jubarte em Nuquí vai de julho a outubro, sendo agosto e setembro os melhores meses. Elas vêm das águas geladas da Antártida para se reproduzir nas águas quentes do Pacífico tropical. É uma viagem de mais de 8.000 quilómetros – uma das migrações mais longas do reino animal.
Melhor altura do dia: As saídas de manhã cedo (6h30-7h00) são geralmente melhores porque o mar está mais calmo e as baleias mais ativas. Evitem as saídas da tarde se forem sensíveis ao enjoo marítimo.
Escolher operadores responsáveis: Isto é crucial. Há operadores que se aproximam demasiado das baleias ou fazem demasiado barulho. Don Carlos e a sua equipa mantêm sempre uma distância respeitosa e desligam o motor quando estão perto. Custa um pouco mais (80.000 pesos vs 60.000 pesos), mas vale cada peso.
Sustentabilidade: O turismo de observação de baleias em Nuquí está a crescer rapidamente, e isso preocupa-me. Vi alguns barcos com turistas a gritar e a tentar tocar nas baleias. Isto não é só perigoso – é prejudicial para os animais. Escolham sempre operadores que sigam as diretrizes de observação responsável.
A ciência por trás da migração (que aprendi com Don Carlos)
Don Carlos não tem formação científica formal, mas conhece estas baleias há mais de 30 anos. Contou-me que os padrões migratórios têm mudado ligeiramente nos últimos anos – algo que os cientistas também confirmam estar relacionado com as mudanças climáticas.
“Antes chegavam sempre na segunda semana de julho”, disse-me. “Agora às vezes chegam em junho, às vezes só em agosto. O mar está diferente.”
Esta sabedoria local combinada com dados científicos é fascinante. As baleias jubarte usam correntes oceânicas e campos magnéticos para navegar, mas também dependem da temperatura da água e da disponibilidade de alimento. Pequenas mudanças no ecossistema podem afetar toda a migração.
Praias selvagens e a descoberta da minha praia secreta
Praia Olímpica é provavelmente a praia mais conhecida de Nuquí, e por uma boa razão. Areia preta vulcânica, palmeiras que se curvam sobre a água, ondas perfeitas para surfar. É bonita, sem dúvida. Mas também é onde vão parar a maioria dos turistas, especialmente aos fins de semana quando chegam barcos de Buenaventura cheios de visitantes de dia.
No meu terceiro dia, decidi explorar. Peguei no meu mapa básico (que comprei na única loja de souvenirs do centro por 5.000 pesos) e comecei a caminhar pela costa. O que descobri mudou completamente a minha experiência em Nuquí.
Depois de cerca de 45 minutos de caminhada pela selva costeira – um trilho que mal se vê e que provavelmente não devia ter feito sozinho – encontrei uma praia que não estava em mapa nenhum. Pequena, protegida por rochas vulcânicas de ambos os lados, com uma cascata pequena que caía diretamente na areia.
Estava completamente sozinho. O único som era o das ondas e dos pássaros na selva atrás de mim. Sentei-me numa pedra e, pela primeira vez em anos, fiquei em silêncio total durante uma hora inteira. Sem telemóvel (sem bateria), sem música, sem distrações. Apenas eu e o Pacífico.
Foi nessa praia que tive o meu encontro com as tartarugas. Não estava à espera – ninguém me tinha dito que havia tartarugas em Nuquí. Mas ali estavam elas, três tartarugas verdes a alimentar-se nas algas perto das rochas. Uma delas aproximou-se tanto que consegui ver os detalhes do seu casco.
Agora que penso nisso, talvez não devesse revelar a localização exata da “minha” praia… mas a sério, foi especial demais para não partilhar. Se forem pela costa sul de Praia Olímpica, passarem pela segunda formação rochosa grande e continuarem por mais 20 minutos, vão encontrá-la. Mas por favor, deixem-na como a encontraram.
Dica número 2: As praias mais bonitas de Nuquí não estão nos guias turísticos. Alugem umas botas de caminhada básicas (10.000 pesos por dia na cidade) e explorem por conta própria. É gratuito e muito mais recompensador que os tours organizados.
Praia Olímpica vs praias escondidas: o dilema
Praia Olímpica tem infraestrutura – restaurantes, casas de banho, cadeiras para alugar. É conveniente e segura. As praias escondidas têm… bem, nada. Mas têm autenticidade e solidão, algo cada vez mais raro no mundo.
O dilema é real: queremos comodidades ou queremos experiências autênticas? Posso ter ambas? Em Nuquí, felizmente, ainda podem. Mas por quanto tempo? O turismo está a crescer rapidamente, e espero que não estraguem o que torna este lugar especial.
Selva tropical: quando a natureza te humilha (de forma bonita)
Sou uma pessoa razoavelmente em forma. Faço exercício regularmente, caminho bastante em Lisboa. Por isso, quando o guia sugeriu uma caminhada de “duas horinhas” pela selva tropical até uma cascata escondida, pensei: “Fácil.”
Que arrogante que eu era.
A selva tropical do Chocó não é uma caminhada no parque da cidade. É 90% de humidade, 30 graus à sombra, mosquitos do tamanho de helicópteros, e um trilho que às vezes desaparece completamente. Ao fim de 30 minutos estava encharcado em suor. Ao fim de uma hora estava a questionar as minhas decisões de vida.
A meio da caminhada, quando estava a considerar seriamente desistir e voltar para trás, o meu guia – um jovem local chamado Andrés que aparentava ter uns 20 anos e caminhava pela selva como se fosse um passeio – parou e apontou para cima.
“Mira”, disse simplesmente.
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Olhei para cima e vi a copa das árvores a formar um túnel verde sobre nós, com raios de luz solar a filtrarem-se através das folhas como holofotes naturais. Era como estar dentro de uma catedral natural. De repente, o suor e o cansaço não importavam.
Tentei fazer um livestream para o Instagram (porque sou assim), mas obviamente não havia sinal. O meu GPS também não funcionava. Estava completamente dependente do conhecimento local de Andrés, e isso era simultaneamente assustador e libertador.
A cascata, quando finalmente lá chegámos, valeu cada gota de suor. Uma queda de água de 15 metros numa piscina natural rodeada de vegetação tropical. A água estava gelada – um alívio bem-vindo depois da caminhada infernal. Mergulhei de roupa e tudo, e foi um dos momentos mais refrescantes da minha vida.
Equipamento essencial que aprendi da maneira difícil:
– Botas de caminhada impermeáveis (não ténis normais como eu levei)
– Repelente forte (DEET 30% mínimo)
– Roupa que seca rapidamente
– Pelo menos 2 litros de água por pessoa
– Power bank para emergências
– Kit básico de primeiros socorros
Preparação física: Não subestimem a selva tropical. Se não caminham regularmente, comecem a preparar-se pelo menos um mês antes. A combinação de humidade, calor e terreno irregular é brutal.
Segurança: Nunca, mas nunca, vão sozinhos. Eu sei que disse que explorei praias sozinho, mas a selva é diferente. É fácil perderem-se, e se alguma coisa correr mal, podem estar em sérios problemas.
Biodiversidade: o que consegui identificar (e o que não)
A biodiversidade da selva do Chocó é insana. É uma das regiões com maior biodiversidade do planeta. Durante a caminhada, Andrés identificou pelo menos 20 espécies de pássaros diferentes, três tipos de primatas, e inúmeras plantas medicinais.
Eu, armado com o meu telemóvel e uma app de identificação de plantas (que não funcionava sem internet), consegui identificar… bem, quase nada. Mas aprendi que há uma diferença enorme entre conhecimento académico e sabedoria local. Andrés sabia quais plantas eram comestíveis, quais eram venenosas, onde encontrar água potável, como ler os sinais do tempo.
Dica para fotografia com telemóvel: A selva tropical é um pesadelo para fotografar. Há demasiado contraste entre luz e sombra, e a humidade embacia constantemente a lente. Levem um pano seco numa bolsa impermeável e sejam pacientes. As melhores fotos são nas clareiras onde há luz difusa.
Comida local: entre a aventura gastronómica e a saudade de casa
A primeira refeição em Nuquí foi numa pequena palapa na praia: peixe fresco grelhado com arroz de coco e patacones (banana-da-terra frita). Simples, fresco, delicioso. Pensei: “Isto vai ser fácil.”
Mas a gastronomia local do Pacífico colombiano é… digamos, uma aventura. Há pratos que me fizeram questionar se o meu paladar português estava preparado para tamanha intensidade de sabores. O primeiro foi uma sopa de caranguejo com tanto picante que pensei que ia pegar fogo. Consegui comer metade, e isso com muito pão e água.
Espera, não foi sopa de caranguejo… era encocado de peixe. A sopa de caranguejo foi no dia seguinte. A memória já não é o que era, especialmente quando se trata de comida que me fez suar pelos poros!
Mas depois descobri o encocado de camarão, e foi amor à primeira colherada. Camarão fresco cozinhado em leite de coco com especiarias locais, servido com arroz de coco e patacones. É cremoso, ligeiramente doce, com um toque de picante que não assusta. Comi isto três vezes durante a minha estadia.
A experiência mais autêntica foi quando a família que gere a minha pousada me convidou para cozinhar com eles. Dona María, a matriarca de 65 anos, ensinou-me a fazer o verdadeiro arroz de coco – não é só adicionar leite de coco ao arroz. Há uma técnica específica que envolve tostar o coco fresco, extrair o leite na altura certa, e temperar com o equilíbrio perfeito de sal e açúcar.
Onde comer bem e barato:
– Mercado central: Almoços completos por 15.000-20.000 pesos (3-4 euros)
– Palapas na praia: Peixe fresco por 25.000-30.000 pesos
– Restaurantes “turísticos”: 40.000-60.000 pesos (evitem, a comida não é melhor)
Dica número 3: Comam onde comem os locais. Os preços são metade e a comida é mais autêntica. Perguntem sempre “¿Qué recomienda?” e deixem-se surpreender.
A sustentabilidade pesqueira é uma preocupação real aqui. Muitos peixes são apanhados com métodos tradicionais sustentáveis, mas a pressão do turismo está a aumentar a procura. Tentem escolher restaurantes que trabalhem diretamente com pescadores locais e evitem espécies em risco.
A comunidade: lições de vida que não esperava aprender
O meu primeiro contacto com os locais foi um pouco constrangedor. O meu espanhol é básico, e o sotaque costeño colombiano é… digamos, desafiante para um português. Passámos os primeiros dias a comunicar mais por gestos que por palavras.
Mas gradualmente, as barreiras foram caindo. Talvez tenha sido quando ajudei Don Carlos a puxar o barco para a praia depois de uma saída para ver baleias. Ou quando me juntei a um grupo de crianças locais num jogo de futebol na praia (e fui completamente humilhado por miúdos de 10 anos que jogavam descalços na areia).
O momento transformador foi quando fui convidado para uma festa comunitária no sábado à noite. Não era nada organizado para turistas – era uma celebração genuína do aniversário de alguém da comunidade. Havia música ao vivo, dança, comida partilhada, e uma sensação de comunidade que raramente experiencio na vida urbana.
Fiquei até às 2 da manhã (algo impensável para mim normalmente), a dançar salsa terrível e a tentar acompanhar as conversas em espanhol. Quando finalmente me despedi, várias pessoas me abraçaram como se fosse família. Uma senhora idosa disse-me: “Eres bienvenido aqui siempre” (“És sempre bem-vindo aqui”).
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Enquanto escrevo isto, ainda troco mensagens com a família que me acolheu. Não é só cortesia – é uma ligação genuína que se formou.

O contraste com o meu ritmo de vida em Lisboa é gritante. Aqui as pessoas têm tempo. Tempo para conversar, tempo para ajudar um estranho, tempo para celebrar pequenas coisas. Não há a pressa constante, a ansiedade sobre produtividade, a obsessão com eficiência que domina a minha vida normal.
Como conectar-se respeitosamente:
– Aprendam algumas frases básicas em espanhol
– Mostrem interesse genuíno na cultura local
– Participem em atividades comunitárias quando convidados
– Comprem de vendedores locais, não de cadeias
– Respeitem os horários e ritmos locais
Turismo responsável: o que aprendi sobre impacto
O turismo em Nuquí está numa fase crítica. Ainda é autêntico, ainda é gerido principalmente pela comunidade local, mas está a crescer rapidamente. Vi sinais preocupantes: lixo plástico nas praias mais visitadas, pressão sobre recursos locais de água, alguns locais a mudarem os seus negócios tradicionais para servir turistas.
Práticas sustentáveis que adotei:
– Trouxe o meu próprio filtro de água em vez de comprar garrafas plásticas
– Escolhi alojamento gerido por famílias locais
– Contratei guias da comunidade em vez de operadores externos
– Deixei uma contribuição para projetos comunitários de conservação
O objetivo é deixar o lugar melhor do que o encontrámos, não apenas tirar fotos bonitas para o Instagram.
Planeamento prático: o que faria diferente (e o que repetiria)
Melhor época para visitar: Julho a outubro para baleias, mas preparem-se para chuva diária. Dezembro a março é mais seco mas sem baleias. Eu fui em setembro e apanhei o melhor dos dois mundos – baleias ativas e apenas chuva ocasional.
Orçamento realista (para uma semana, por pessoa):
– Voos: 300-400 euros (Lisboa-Bogotá-Medellín-Nuquí)
– Alojamento: 25-40 euros por noite (pousada familiar)
– Comida: 15-25 euros por dia
– Atividades: 50-80 euros (observação de baleias, caminhadas)
– Transporte local: 20-30 euros
– Total: 600-800 euros
Confesso que gastei mais do que planeava – cerca de 900 euros no total – mas valeu cada peso colombiano.
Erros que cometi:
1. Não trouxe power bank suficientemente potente
2. Levei roupa errada para a selva (algodão em vez de tecidos sintéticos)
3. Não pesquisei sobre marés antes das atividades de praia
4. Subestimei o tempo necessário para deslocações
O que repetiria:
1. Ficar pelo menos 5-6 dias (4 dias foram poucos)
2. Escolher alojamento familiar em vez de hotel
3. Contratar guias locais para todas as atividades
4. Levar apenas o essencial (menos bagagem = mais liberdade)
Itinerário otimizado para 5 dias:
– Dia 1: Chegada e adaptação, explorar o centro
– Dia 2: Primeira saída para ver baleias
– Dia 3: Caminhada na selva e cascatas
– Dia 4: Explorar praias remotas
– Dia 5: Segunda saída para baleias e despedida
Como poupar 20%+ no total:
– Viajem em grupos pequenos para partilhar custos
– Comam principalmente em locais frequentados por residentes
– Negociem pacotes de atividades com o mesmo operador
– Evitem época alta (dezembro-janeiro)
Conectividade e vida digital
A realidade: o WiFi em Nuquí é lento, intermitente, e limitado principalmente às áreas comuns dos alojamentos. Os dados móveis funcionam ocasionalmente na cidade, mas esqueçam conectividade nas praias ou selva.
Apps úteis offline:
– Maps.me (mapas offline)
– Google Translate (com download de espanhol)
– iNaturalist (identificação de plantas/animais)
– Tide charts (marés)
Gestão de expectativas digitais: Vejam isto como uma oportunidade de desconexão digital, não como um problema. Foi libertador não ter acesso constante às redes sociais e email.
Por que Nuquí mudou a minha perspetiva sobre viagens
No último dia, enquanto fazia as malas no meu pequeno quarto com vista para o Pacífico, senti uma resistência física em partir. Não era apenas o fim de umas férias – era o fim de uma experiência que me tinha mudado de formas que ainda estava a processar.
No voo de regresso para Medellín, olhei pela janela para a selva infinita e tentei articular o que tinha acontecido comigo naqueles cinco dias. Tinha chegado a Nuquí como um turista típico, armado com expectativas, uma lista de coisas para fazer, e uma agenda mental de experiências para “conquistar”.
Mas Nuquí não se deixa conquistar. Nuquí convida-nos a render, a desacelerar, a ser humildes perante a natureza e a comunidade. As baleias não saltam quando queremos. A selva não se revela nos nossos termos. A comunidade não existe para o nosso entretenimento.
E foi precisamente essa rendição que me deu as experiências mais profundas. Os momentos mais memoráveis não foram os que planeei – foram os que aconteceram quando deixei de tentar controlar tudo.
Sobre o autor: João dedica-se a partilhar experiências reais de viagem, dicas práticas e perspetivas únicas, esperando ajudar os leitores a planear viagens mais relaxantes e agradáveis. Conteúdo original, escrever não é fácil, se precisar de reimprimir, por favor note a fonte.