Fusagasugá: cidade jardim nas montanhas


Fusagasugá: cidade jardim nas montanhas – quando Bogotá fica demasiado sufocante

Para ser completamente honesto, quando ouvi falar de Fusagasugá pela primeira vez, pensei que era apenas mais uma daquelas cidades satélite de Bogotá onde as pessoas vão para fugir do caos da capital. Foi numa conversa casual com um taxista em março de 2023, enquanto estava preso no trânsito da Carrera 7, que ele me disse: “Você deveria conhecer Fusa, é onde vou aos fins de semana para respirar”. Na altura, achei que era só mais uma daquelas recomendações que os taxistas dão para puxar conversa.

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Que erro monumental. Fusagasugá acabou por se tornar no meu refúgio secreto, no sítio onde vou quando Bogotá se torna demasiado cinzenta e barulhenta. Agora, enquanto escrevo isto numa tarde chuvosa de fevereiro de 2025, tenho uma mensagem no WhatsApp de um amigo a perguntar se vale a pena fazer uma escapadinha de fim de semana para lá. A resposta é sempre a mesma: vale, mas não pelos motivos que pensas.

A verdade é que Fusagasugá não é perfeita. Não é aquela cidade de conto de fadas que algumas fotos do Instagram fazem parecer. Mas tem algo que me fez voltar lá quatro vezes nos últimos dois anos, e cada visita revelou-me uma camada diferente desta cidade que se autodenomina “Cidade Jardim da Colômbia”.

A jornada até lá: mais complicada do que parece (mas vale cada minuto)

O dilema do transporte público vs. carro alugado

A primeira vez que tentei ir a Fusagasugá foi um desastre logístico completo. Tinha lido online que eram “apenas 60 quilómetros de Bogotá”, o que na minha mente de europeu significava uma hora de viagem. Que ingenuidade. Apanhei um autocarro no Terminal de Transporte e preparei-me para uma viagem tranquila. Três horas depois – não, espera, agora lembro-me melhor, foram quase quatro horas porque houve um acidente na via que nos obrigou a parar durante 45 minutos – finalmente cheguei ao destino.

O autocarro custou-me 8.000 pesos colombianos, o que é ridiculamente barato, mas o tempo perdido foi considerável. Na segunda visita, experimentei o Uber, que me custou cerca de 55.000 pesos (o preço varia entre 45.000 e 60.000 dependendo da hora e do trânsito), mas fiz a viagem em hora e meia. A diferença de conforto é abismal.

Aqui vai uma dica que me poupou dinheiro nas visitas seguintes: nos grupos de Facebook de viajantes colombianos, há sempre pessoas a procurar companhia para partilhar Uber ou táxi. Consegui partilhar a viagem duas vezes, pagando apenas 20.000 pesos cada um. É preciso um bocado de paciência para coordenar, mas vale a pena.

Uma coisa que ninguém me tinha avisado: leva sempre um power bank. A ansiedade de ficar sem bateria no telemóvel durante a viagem é real, especialmente quando dependes do GPS para te orientares na chegada. Descobri que os autocarros mais novos têm carregadores USB, mas não todos, e é sempre uma lotaria.

O que ninguém te conta sobre o clima na estrada

A diferença de temperatura entre Bogotá e Fusagasugá é mais significativa do que esperava. Bogotá estava com os seus habituais 14 graus e chuviscos, mas quando cheguei a Fusagasugá, o termómetro marcava 22 graus e havia sol. Agora levo sempre uma camisola extra na mochila porque o regresso à capital pode ser um choque térmico.

O ar também muda. É uma daquelas coisas que só notas quando prestas atenção, mas há qualquer coisa no ar de Fusagasugá que te faz respirar mais profundamente. Talvez seja psicológico, mas juro que sinto a diferença quando saio da savana de Bogotá e começo a descer para o vale.

Primeira impressão: entre o encanto e a realidade urbana

Vou ser franco: a zona central de Fusagasugá não é exatamente o que esperava. Há bastante movimento de carros, especialmente na Carrera 3 e na Calle 6, e não é tão “jardim” como o nome da cidade sugere. A primeira hora foi ligeiramente dececionante porque tinha criado expectativas baseadas em fotografias muito seletivas que tinha visto no Instagram.

O centro tem aquela energia típica das cidades colombianas de tamanho médio: movimento constante, vendedores ambulantes, música a sair das lojas, e um certo caos organizado que pode ser esmagador se vens de um fim de semana tranquilo em mente. Pensei para mim: “Será que me enganei? Será que isto é só mais uma cidade qualquer?”

Mas foi quando comecei a explorar os bairros residenciais e as zonas mais periféricas que tudo mudou. O verdadeiro charme de Fusagasugá não está no centro comercial, está nas ruas arborizadas, nas casas com jardins exuberantes, e na forma como a cidade se funde gradualmente com a paisagem montanhosa.

A primeira refeição foi no restaurante La Fogata, por recomendação da rececionista do hotel. Pedi uma bandeja paisa sem grandes expectativas e fiquei genuinamente surpreendido: a porção era generosa, os ingredientes frescos, e o preço (18.000 pesos) era uma fração do que pagaria por algo similar em Bogotá. Foi o primeiro sinal de que Fusagasugá tinha mais para oferecer do que a primeira impressão sugeria.

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Uma coisa que me chamou a atenção desde o primeiro dia foi a quantidade de espaços verdes, mesmo no centro urbano. Há pequenos parques e jardins por todo o lado, e nota-se um esforço genuíno para manter a cidade verde. É uma característica que aprecio cada vez mais, especialmente numa era em que a consciência ambiental se torna cada vez mais importante.

Os tesouros escondidos que mudaram tudo

Parque Natural Chicaque: o pulmão verde que não esperava

Confesso que o Parque Natural Chicaque não estava nos meus planos iniciais. Foi uma sugestão de última hora da rececionista do hotel, quando ela notou que eu estava um bocado desiludido com o centro da cidade. “Se gosta da natureza, tem de ir ao Chicaque”, disse-me ela. “Fica a apenas 20 minutos daqui.”

Vinte minutos transformaram-se em 35 porque me perdi duas vezes (o GPS do telemóvel não é muito fiável naquela zona), mas quando finalmente cheguei à entrada do parque, percebi que tinha encontrado o verdadeiro tesouro de Fusagasugá.

As trilhas têm diferentes níveis de dificuldade, mas não te deixes enganar pelas descrições online que dizem que são “fáceis”. A trilha principal tem cerca de 3 quilómetros, mas com subidas que te deixam sem fôlego se não estás habituado à altitude. A meio do percurso, confesso que pensei em desistir. A minha condição física não é a melhor, e havia momentos em que me questionava se valia a pena continuar.

Mas valeu. As vistas panorâmicas do vale, quando finalmente chegamos aos miradouros, são de cortar a respiração. Consegues ver Fusagasugá lá em baixo, rodeada de montanhas verdes, e percebes porque é que lhe chamam Cidade Jardim. É um daqueles momentos em que te lembras porque é que viajas.

Uma coisa que ninguém me tinha avisado: leva repelente de insetos. Aprendi da pior forma possível, e passei os dois dias seguintes com picadas por todo o lado. O parque tem uma biodiversidade incrível, o que inclui mosquitos e outros insetos que adoram turistas desprevenidos.

O parque cobra 15.000 pesos para adultos (preços atualizados em dezembro de 2024) e está aberto das 8h às 16h. Vale cada peso, mas planeia passar pelo menos meio dia lá se quiseres aproveitar as trilhas principais.

A surpresa gastronómica que ninguém menciona

Por acaso – e sublinho o “por acaso” porque não estava planeado – descobri o Mercado Campesino numa manhã de sábado. Estava a caminhar sem rumo pelos bairros residenciais quando comecei a ouvir música e vozes vindas de uma praça próxima.

O mercado é uma explosão sensorial: o aroma do café fresco mistura-se com o cheiro das frutas tropicais, as cores dos produtos locais criam um mosaico vibrante, e há uma energia contagiante de comunidade que raramente encontras em mercados turísticos.

Os vendedores são incrivelmente acolhedores. Passei uma hora a conversar com uma senhora que vendia mel artesanal e que me explicou as diferenças entre os diferentes tipos de mel da região. Comprei um frasco pequeno por 12.000 pesos – em Bogotá, pagaria o dobro por algo de qualidade inferior.

Não, espera, enganei-me. O mercado não é só aos sábados. Também funciona às quintas-feiras, mas aos sábados é quando há mais movimento e mais variedade de produtos. É aos sábados que vale a pena ir se quiseres ter a experiência completa.

Experimentei frutas que nunca tinha visto antes, provei queijos artesanais da região, e descobri que Fusagasugá tem uma tradição de doces caseiros que rivaliza com qualquer cidade colombiana. O melhor de tudo: os preços são honestos, sem a inflação turística que encontras noutros sítios.

Onde ficar: as minhas descobertas após 3 tentativas diferentes

Vou ser completamente transparente: experimentei três tipos de alojamento diferentes em visitas separadas, e cada um ensinou-me algo diferente sobre Fusagasugá.

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A primeira vez fiquei num hotel no centro, o Hotel Samaná. O preço era razoável (80.000 pesos por noite), a localização conveniente, mas houve um problema: o quarto que me deram supostamente tinha “vista para as montanhas”, mas na realidade dava para um lote de construção e um edifício em obras. Foi dececionante, e o ruído da construção começava às 6h30 da manhã.

Na segunda visita, experimentei um Airbnb numa zona residencial. Foi uma experiência completamente diferente: apartamento inteiro, cozinha equipada, zona mais tranquila, e o preço (60.000 pesos por noite) era mais baixo que o hotel. O único problema foi o WiFi, que era intermitente – um pesadelo para quem precisa de trabalhar remotamente.

A terceira tentativa foi a mais acertada: uma casa rural a cerca de 10 minutos do centro. Foi a experiência mais autêntica que tive em Fusagasugá. Acordar com o som dos pássaros, tomar o pequeno-almoço no jardim rodeado de plantas tropicais, e ter a sensação de estar realmente imerso na natureza da região. Custou-me 70.000 pesos por noite, mas incluía pequeno-almoço e a possibilidade de usar a cozinha.

Uma dica importante que descobri: se reservares entre terça e quinta-feira, podes poupar até 30% em qualquer tipo de alojamento. Os fins de semana são obviamente mais caros porque é quando os bogotanos fazem as suas escapadinhas.

Quanto ao WiFi, varia drasticamente entre as opções. Se precisas de uma ligação estável para trabalhar, confirma sempre antes de reservar. A casa rural tinha a melhor ligação, surpreendentemente, enquanto alguns hotéis no centro tinham ligações frustrantes.

Atividades que valem cada peso colombiano (e algumas que não valem)

O que realmente vale a pena

Já falei do Parque Natural Chicaque, mas quero expandir um pouco mais porque foi verdadeiramente transformador. Para além das trilhas, há atividades de observação de aves que funcionam melhor de manhã cedo. Não sou ornitólogo nem tenho conhecimentos especiais sobre aves, mas há qualquer coisa mágica em acordar às 6h da manhã e ouvir a sinfonia natural que acontece no parque ao amanhecer.

As visitas às quintas de café locais são outra experiência que recomendo vivamente. Há uma diferença abismal entre a experiência completa (que inclui explicação do processo, degustação, e possibilidade de comprar café diretamente do produtor) e a visita turística rápida que alguns sítios oferecem. A Finca El Paraíso oferece a experiência completa por 25.000 pesos, e vale cada peso. Sais de lá com uma compreensão completamente nova sobre o café colombiano.

Inicialmente confundi duas quintas diferentes com nomes similares – Finca El Paraíso e Finca Paraíso Verde – e acabei na segunda por engano. Não foi uma experiência má, mas era mais comercial e menos autêntica que a primeira.

O que me deixou na dúvida

Há algumas atividades que não consegui experimentar por falta de tempo ou devido às condições climáticas. O parapente, por exemplo, depende muito do vento e das condições meteorológicas. Estava planeado para o meu último dia, mas o tempo não colaborou.

As atividades aquáticas no rio Cuja também dependem muito da época do ano. Durante a época seca (dezembro a março), o nível da água é baixo e algumas atividades ficam limitadas. É uma daquelas coisas que tens de planear com flexibilidade.

Acabei de ver no Instagram que abriram uma nova atração, um parque de aventura com tirolesas e pontes suspensas, mas ainda não tive oportunidade de visitar. Está na minha lista para a próxima visita, mas não posso fazer recomendações baseadas em experiência própria.

Dicas práticas que gostava de ter sabido antes

A gestão de dinheiro em Fusagasugá é mais complicada do que em Bogotá. Há ATMs no centro, mas nem todos aceitam cartões internacionais. O Banco de Bogotá na Carrera 3 é o mais fiável para cartões estrangeiros. Muitos estabelecimentos pequenos, especialmente no mercado e nas quintas rurais, só aceitam dinheiro, por isso leva sempre algum em espécie.

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Em termos de tecnologia, recomendo vivamente que descarregues a app “Clima Colombia” antes de ires. O tempo em Fusagasugá pode mudar rapidamente, e é útil teres previsões atualizadas. Para transporte local, a app “Tappsi” funciona melhor que o Uber na região.

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A consciência ambiental é algo que se nota em Fusagasugá, e como turista podes contribuir facilmente. Leva sempre uma garrafa de água reutilizável – há vários pontos de água potável pela cidade. Evita produtos descartáveis quando possível, e se fores às trilhas, segue sempre o princípio de “não deixar rasto”.

Culturalmente, Fusagasugá é mais descontraída que Bogotá, mas mantém a cortesia típica colombiana. Um “buenos días” ou “buenas tardes” ao entrar em estabelecimentos é sempre bem recebido. As pessoas são genuinamente prestáveis, especialmente se demonstrares interesse pela região e pela cultura local.

Em termos de segurança, Fusagasugá é relativamente tranquila, mas usa o bom senso básico: não ostentes objetos de valor, evita caminhar sozinho muito tarde da noite, e mantém-te nas zonas mais movimentadas se não conheces bem a área.

O timing ideal para diferentes atividades varia: as trilhas são melhores de manhã cedo (menos calor, melhor luz para fotografias), o mercado campesino é mais animado ao meio da manhã aos sábados, e as quintas de café recebem melhor durante a semana quando há menos movimento turístico.

Reflexões finais: porque Fusagasugá merece mais que uma visita de um dia

Quando olho para trás, para a minha primeira visita a Fusagasugá, rio-me da minha ingenuidade inicial. Esperava encontrar uma versão miniatura de cidades europeias pitorescas, mas encontrei algo muito mais interessante: uma cidade colombiana autêntica que consegue equilibrar desenvolvimento urbano com preservação ambiental.

Comparando com outros destinos similares na Colômbia – Villa de Leyva, Guatapé, ou mesmo Zipaquirá – Fusagasugá tem uma vantagem única: não é (ainda) completamente turistificada. Há uma autenticidade nas interações, uma genuinidade nas experiências que às vezes se perde em destinos mais populares.

O que mais vou sentir falta quando não estiver lá? Provavelmente das manhãs na casa rural, com o café fresco e o som dos pássaros. Ou talvez das conversas improvisadas com os vendedores do mercado, que me ensinaram mais sobre a região em duas horas do que qualquer guia turístico.

Já estou a planear uma quinta visita, provavelmente em maio de 2025, para experimentar as atividades que ficaram por fazer e para revisitar os sítios que mais me marcaram. Não prometo escrever outro artigo sobre isso – às vezes as experiências são demasiado pessoais para partilhar – mas sei que Fusagasugá se tornou numa parte importante do meu mapa pessoal da Colômbia.

Se estás a pensar visitar Fusagasugá, vai com expectativas realistas mas mente aberta. Não é perfeita, não é exótica, mas tem uma qualidade que se torna viciante: a capacidade de te fazer abrandar, respirar, e lembrar que nem todas as melhores experiências de viagem acontecem nos destinos mais famosos.

A partir de fevereiro de 2025, estas são as minhas recomendações baseadas em experiência real e múltiplas visitas. Se decidires ir, adorava saber como foi a tua experiência. Deixa um comentário a contar o que descobriste – há sempre algo novo para aprender sobre um sítio, mesmo depois de várias visitas.

Esta é apenas a minha experiência pessoal com Fusagasugá, e as situações podem mudar com o tempo. Preços, horários e disponibilidade de atividades devem ser sempre confirmados antes da viagem.

Sobre o autor: João dedica-se a partilhar experiências reais de viagem, dicas práticas e perspetivas únicas, esperando ajudar os leitores a planear viagens mais relaxantes e agradáveis. Conteúdo original, escrever não é fácil, se precisar de reimprimir, por favor note a fonte.