Florencia: ponte entre montanha e selva


Florencia: ponte entre montanha e selva – quando o Caquetá te surpreende de formas inesperadas

Vou ser completamente honesto contigo – quando comecei a planear esta viagem, Florencia não estava sequer no meu radar. Na verdade, estava a tentar chegar ao Parque Nacional Natural Puracé e, por uma série de confusões com voos cancelados e horários que não batiam certo, acabei com um bilhete para o aeroporto Gustavo Artunduaga Paredes. “Onde raio é isso?”, perguntei-me enquanto olhava para o boarding pass às 6h30 da manhã no El Dorado.

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Três semanas depois, enquanto escrevo estas linhas com as botas ainda sujas de lama do rio Hacha (sim, lama, não areia como pensava inicialmente – típico de quem passou demasiado tempo em praias urbanas), posso dizer que foi uma das melhores “coincidências” da minha vida de viajante. Florencia revelou-se muito mais do que uma simples cidade de transição entre os Andes e a Amazónia – é um mundo à parte, onde a Cordilheira Oriental se despede suavemente da selva tropical.

A primeira impressão? Confesso que foi de ligeira deceção. Chegando de Bogotá, esperava algo mais… dramático? A verdade é que Florencia não te agarra pela gola das primeiras. É uma cidade que se revela devagar, como uma conversa com um desconhecido que gradualmente se torna num amigo para a vida. O aeroporto é pequeno, funcional, sem grandes pretensões – e isso acabou por ser perfeito para o que se seguiu.

O que ninguém te conta sobre chegar a Florencia (e os meus erros iniciais)

Navegando as opções de transporte sem romantizar a experiência

Vamos diretos ao assunto: tens três formas principais de chegar a Florencia desde Bogotá. Podes voar (1h15min, cerca de 200.000-350.000 pesos dependendo da época), apanhar autocarro (8-10 horas, 60.000-80.000 pesos), ou ser corajoso e ir de carro próprio. Escolhi o voo porque, francamente, não estava com paciência para 10 horas de estrada serpenteante.

Mas aqui está o primeiro erro que cometi: reservei transfer do aeroporto online. Paguei 45.000 pesos por algo que custaria 15.000 num táxi normal. O condutor que me apanhou riu-se quando lhe contei – “Hermano, os turistas sempre fazem isso. Nós estamos aqui na porta, não precisas de reservar nada online.” Lição aprendida: às vezes a tecnologia complica mais do que ajuda.

O GPS do telemóvel? Esquece. Pelo menos nas primeiras horas. O sinal é intermitente e as ruas de Florencia não estão todas mapeadas corretamente. Acabei por depender das indicações dos locais, o que, retrospetivamente, foi uma bênção disfarçada. Aprendi mais sobre a cidade em duas horas de perguntas do que aprenderia numa semana com Google Maps.

Aqui vai uma dica que me poupou 40% no alojamento: cheguei numa quarta-feira. Aparentemente, os fins de semana e segundas-feiras são os dias mais movimentados (grupos de Bogotá que vêm fazer turismo de aventura), então os preços disparam. A rececionista do hotel onde acabei por ficar contou-me isto depois de eu já ter feito check-in – se tivesse sabido antes, teria planeado melhor as datas.

Primeiras 24 horas – quando a realidade não bate com as expectativas

A primeira coisa que notei foi o calor húmido. Não é insuportável, mas é diferente. Vens dos 2.600 metros de Bogotá, onde precisas de casaco mesmo no verão, e de repente estás a 242 metros de altitude com 85% de humidade. O corpo demora umas horas a ajustar-se.

O melhor café que encontrei não estava em nenhum dos sítios “recomendados” online. Estava numa pequena padaria chamada “El Rincón de Doña Carmen”, a duas quadras da praça principal. A dona, uma senhora de uns 70 anos, faz um café com panela de barro que te faz questionar tudo o que pensavas saber sobre café colombiano. Custou-me 2.000 pesos – menos do que pagaria por um expresso aguado numa cadeia famosa.

Sobre andar à noite: não vou ser alarmista, mas também não vou romantizar. Florencia é uma cidade relativamente segura, mas como qualquer lugar, tem as suas zonas. O centro histórico é tranquilo até às 22h, especialmente nas ruas principais. Evitei as zonas mais afastadas do centro depois das 21h, não por medo específico, mas por bom senso. Os locais foram sempre diretos comigo sobre onde ir e onde não ir – aprecia essa honestidade.

Entre a Cordilheira Oriental e a Amazónia – quando a geografia faz sentido

Foi no segundo dia, durante uma caminhada matinal pelo Malecón del río Hacha, que finalmente percebi onde estava geograficamente. Florencia não é montanha nem é selva – é o ponto exato onde uma se transforma na outra. É como estar numa zona de transição ecológica em tempo real.

A mudança é subtil mas constante. Começas a ver palmeiras misturadas com pinheiros, bromélias a crescer ao lado de plantas típicas de altitude média. O rio Hacha serpenteia pela cidade como uma artéria que liga dois mundos diferentes. Documentei isto com fotos, tentando capturar essa transição, mas a câmara não consegue transmitir a sensação física de estar neste limbo geográfico.

O clima é a prova mais óbvia desta posição única. De manhã cedo, especialmente entre as 6h e as 8h, há uma brisa fresca que vem das montanhas. À tarde, a partir das 14h, a humidade amazónica toma conta. É como viver dois climas no mesmo dia. Aprendi isto da forma mais básica: levava sempre duas mudas de roupa – uma para a manhã e outra para a tarde.

Não, espera, enganei-me nos dados – não são 500 metros de altitude como pensava inicialmente. São 242 metros. Parece pouco, mas faz toda a diferença. Esta altitude específica cria um microclima que permite que espécies de diferentes ecossistemas coexistam. Vi isto claramente no Jardín Botánico Amazónico, onde plantas andinas crescem a metros de espécies tipicamente amazónicas.

A consciência ambiental bate-te quando percebes que estás literalmente na fronteira entre dois dos ecossistemas mais importantes do planeta. Cada decisão que tomas como turista – desde o lixo que produces até ao transporte que escolhes – tem impacto direto nesta zona de transição tão frágil.

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Florencia como base de operações – a verdade sem filtros

Hospedagem – três experiências, três lições

Experimentei três tipos de alojamento diferentes em Florencia, e cada um ensinou-me algo sobre a cidade e sobre as minhas próprias preferências de viagem.

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Primeiro, tentei um hotel “de categoria” no centro. Quarenta e cinco mil pesos por noite, ar condicionado, WiFi “grátis”. O ar condicionado avariou na segunda noite (claro), e demorou dois dias a arranjar. O WiFi funcionava bem no lobby, mas no quarto era uma lotaria. A parte positiva? A localização era perfeita e o pequeno-almoço incluído era decente.

Depois mudei para um hostel frequentado por mochileiros. Vinte mil pesos por noite num quarto partilhado. Aqui aprendi mais sobre Florencia em três dias do que aprenderia num mês sozinho. Os outros hóspedes – um casal alemão, duas raparigas francesas, um colombiano de Medellín – partilhavam dicas constantemente. Foi aqui que soube da existência de trilhos secretos e restaurantes onde os locais realmente comem.

A terceira experiência foi numa casa de família, através de uma recomendação do pessoal do hostel. Trinta mil pesos por noite, quarto privado, pequeno-almoço caseiro incluído. A Señora Marta tratou-me como família, explicou-me a história da região durante as refeições e até me emprestou uma bicicleta para explorar os arredores.

Para estadias de mais de quatro noites, consegui negociar preços em todos os sítios. Em Florencia, ainda funciona a negociação cara a cara, especialmente se mostrares interesse genuíno pela região e não fores apenas mais um turista de passagem.

Comida – entre a tradição e a adaptação turística

O prato que mudou a minha perspetiva sobre a gastronomia caqueteña foi o “sancocho de gallina criolla” da Doña Carmen (sim, a mesma do café). Não é o sancocho que conheces de outras regiões da Colômbia. Este leva ingredientes amazónicos – chontaduro, plátano primitivo, yuca brava – misturados com técnicas culinárias andinas. Custou 12.000 pesos e foi uma das melhores refeições da viagem.

Tive uma experiência dececionante no “Restaurante Amazónico” (nome obviamente inventado para turistas). Menu em inglês, preços inflacionados, comida que tentava ser “exótica” mas acabava por ser insípida. Paguei 35.000 pesos por um prato que era basicamente frango grelhado com alguns frutos tropicais por cima. Lição: se tem menu em inglês e está na zona turística, provavelmente não é onde os locais comem.

Os verdadeiros tesouros gastronómicos estão nas “tiendas” dos bairros residenciais. Descobri isto seguindo trabalhadores na hora do almoço. Comida caseira, porções generosas, preços honestos. O meu favorito foi um pequeno estabelecimento sem nome na Carrera 11, onde por 8.000 pesos conseguia uma refeição completa que me sustentava o dia inteiro.

Expedições desde Florencia – quando a natureza te coloca no teu lugar

Cueva de los Guácharos – mais do que uma simples gruta

Preparei-me como se fosse fazer espeleologia profissional. Levei lanterna de cabeça, bateria extra, roupa de reserva, kit de primeiros socorros. No final, precisei apenas da lanterna e de sapatos com boa aderência. Típico de quem pesquisa demais na internet e se prepara para o pior cenário possível.

A experiência única que não esqueço foi o momento de silêncio absoluto no interior da gruta. O guia pediu-nos para desligar todas as lanternas e ficar em silêncio completo durante dois minutos. Nunca tinha experimentado uma escuridão e um silêncio tão profundos. Consegues ouvir o teu próprio coração a bater, a respiração dos outros visitantes, o eco distante de gotas de água. É quase meditativo.

A melhor hora para visitar é às 15h30. Chegamos quando os guácharos (aves noturnas que dão nome à gruta) estão a preparar-se para sair para caçar. Consegues ouvir o movimento deles nas partes mais profundas da gruta. De manhã estão a dormir e é tudo muito mais silencioso.

A dinâmica do grupo foi interessante. Éramos oito pessoas – eu, o casal alemão do hostel, uma família colombiana de Cali, e dois estudantes universitários de Bogotá. Cada um reagiu de forma diferente à experiência. Os alemães documentaram tudo, a família de Cali fez muitas perguntas ao guia, os estudantes fizeram piadas nervosas. Eu? Tentei absorver tudo sem pensar demasiado.

Estrecho del Magdalena – quando subestimas a natureza

Aqui cometi o erro clássico do turista urbano: subestimei completamente a caminhada. Vi “trilho fácil, 2 horas” na descrição e pensei “tranquilo, faço isto a dormir”. Três horas depois, com as pernas a tremer e a camisa encharcada de suor, cheguei ao estreito do rio Magdalena com uma humildade renovada.

O problema não foi a distância, foi o terreno. O trilho é íngreme em alguns pontos, escorregadio se tiver chovido recentemente (que é frequente), e o calor húmido drena-te a energia mais rapidamente do que esperavas. Tive de parar três vezes para descansar e beber água.

Mudei o itinerário no último minuto porque o guia local sugeriu ir primeiro ao estreito e depois visitar as piscinas naturais rio abaixo, em vez de fazer o percurso inverso como estava planeado. “Assim aproveitas melhor a luz da tarde para fotos e podes refrescar-te nas piscinas depois da caminhada mais difícil”, explicou. Tinha razão – a luz das 16h no estreito é mágica.

A diferença entre época seca e húmida é dramática. Visitei em janeiro (época seca) e o nível da água estava baixo, permitindo ver claramente como o rio Magdalena se comprime entre as rochas. O guia mostrou-me fotos de maio (época húmida) onde a água está muito mais alta e a corrente é impressionante. São duas experiências completamente diferentes.

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A conversa que mudou a minha perspetiva foi com Don Carlos, o guia local de 65 anos que trabalha na zona há 30 anos. Contou-me como o turismo mudou a vida da comunidade, mas também como alguns visitantes não respeitam o ambiente. “Antes, este trilho era usado apenas pelos locais para pescar. Agora recebemos 50-60 turistas por semana. É bom para a economia, mas temos de cuidar melhor da natureza”, disse-me enquanto recolhia lixo deixado por outros visitantes.

Aventuras aquáticas – Rio Hacha e a realidade do rafting

Quando vi “rafting no Rio Hacha” na lista de atividades disponíveis, imaginei rápidos emocionantes e adrenalina pura. A realidade foi… diferente. O nível de dificuldade é genuinamente iniciante – classe I-II na escala internacional. Para quem nunca fez rafting, é perfeito. Para quem já tem experiência, pode ser ligeiramente dececionante.

O momento de medo real aconteceu não por causa dos rápidos, mas por causa de um tronco caído que não estava marcado no percurso habitual. O guia teve de manobrar rapidamente para evitar que a jangada embatesse. Durante uns segundos, senti genuinamente que podíamos virar. Nada dramático, mas suficiente para me lembrar que a natureza é imprevisível.

O operador turístico fornece colete salva-vidas, capacete e remo. Deves levar: protetor solar (muito importante – vais estar exposto ao sol durante 3-4 horas), roupa que possa molhar-se, sapatos que não saiam do pé (tipo ténis velhos ou sandálias desportivas), e uma muda de roupa seca para depois.

Em 2024, o estado do rio estava visivelmente melhor do que as fotos que vi de anos anteriores. Há um projeto de limpeza comunitária que está a dar resultados. A água não está cristalina, mas está limpa o suficiente para não te preocupares se salpicares acidentalmente. Vi peixes, aves aquáticas, e até uma preguiça numa árvore na margem.

A cultura caqueteña – descobertas além do óbvio

Florencia tem uma identidade cultural muito específica que só percebes depois de alguns dias na cidade. Não é andina como Bogotá, não é caribenha como Cartagena, não é completamente amazónica como Leticia. É uma mistura única que reflete a sua posição geográfica.

A diferença mais óbvia em relação a outras regiões da Colômbia é o ritmo de vida. As pessoas não têm a pressa de Bogotá nem a descontração total da costa. Há um ritmo intermédio, mais pausado que a capital mas mais dinâmico que as cidades pequenas do interior. As lojas fecham para almoço (12h30-14h30), mas não para siesta completa.

Tive uma conversa significativa com Luis, um professor de história local que conheci no Malecón. Explicou-me como Florencia sempre foi uma cidade de passagem – primeiro para colonos que iam para a Amazónia, depois para comerciantes, agora para turistas. “A nossa identidade sempre foi receber pessoas de fora e adaptar-nos”, disse-me. “Por isso somos bons anfitriões, mas também mantemos as nossas tradições.”

Presenciei uma “Noche de Tambores” na praça principal numa sexta-feira. Não era um evento turístico – era uma tradição local onde músicos amadores se juntam para tocar ritmos tradicionais caqueteños. Jovens e idosos participaram, alguns com instrumentos profissionais, outros com tambores caseiros. A música era uma fusão de ritmos andinos com influências amazónicas que nunca tinha ouvido antes.

A descoberta musical inesperada foi o “bambuco caqueteño”, uma variação local do bambuco tradicional colombiano. Tem influências indígenas mais marcadas e usa instrumentos como a flauta de bambu e tambores de pele de peixe. Comprei um CD (sim, ainda vendem CDs) de um grupo local chamado “Raíces del Caquetá” numa loja de música da rua principal.

Acabei de receber uma mensagem no WhatsApp de Luis, o professor que conheci. Mandou-me fotos do festival de música tradicional que aconteceu na semana passada. Fiquei com vontade de voltar só para isso – às vezes as melhores experiências acontecem quando já não estás lá para as viver.

A posição geográfica de Florencia influencia diretamente a identidade local de formas surpreendentes. Por exemplo, a gastronomia mistura técnicas de conservação de alimentos típicas das montanhas (como a secagem e defumação) com ingredientes amazónicos frescos. A arquitetura combina a necessidade de ventilação tropical com materiais andinos como a pedra e a telha de barro.

Evito romantizar, mas também não posso ignorar os desafios reais. Florencia está numa região que foi afetada pelo conflito armado durante décadas. Muitas famílias são deslocadas internas que vieram de zonas rurais em busca de segurança. Isto criou uma diversidade cultural interessante, mas também tensões sociais que se sentem subtilmente no dia a dia.

Sustentabilidade e turismo responsável – o que vi no terreno

O impacto do turismo em Florencia é visível e contraditório. Por um lado, trouxe desenvolvimento económico evidente – novos hotéis, restaurantes, agências de turismo, empregos para guias locais. Por outro lado, vi lixo em trilhos naturais, erosão em pontos de observação muito visitados, e a pressão sobre recursos hídricos locais.

Conheci um projeto de conservação fascinante chamado “Guardianes del Hacha”, liderado por jovens locais que combinam turismo comunitário com educação ambiental. Eles treinam moradores para serem guias, ensinam técnicas de turismo sustentável, e reinvestem parte dos lucros em projetos de reflorestação. Participei numa das suas atividades – plantação de árvores nativas numa zona degradada perto do rio.

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Uma dica prática específica para Florencia: leva sempre uma garrafa de água reutilizável. A água da torneira é potável na cidade (confirmei isto com locais e testei pessoalmente), mas muitos turistas compram garrafas de plástico desnecessariamente. Há pontos de água potável gratuita no aeroporto, na praça principal, e na maioria dos hotéis.

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O momento de consciência sobre o meu próprio impacto veio quando vi um grupo de turistas a deixar lixo numa área de piquenique perto das piscinas naturais. Eu próprio tinha deixado algumas cascas de banana, pensando que “é biodegradável, não faz mal”. Mas o guia explicou-me que mesmo lixo orgânico pode alterar o equilíbrio nutricional do solo em ecossistemas sensíveis. Desde então, levo sempre um saco pequeno para recolher todo o meu lixo.

Observei uma tendência interessante no turismo local: cada vez mais operadores oferecem experiências “slow tourism” – estadias mais longas, grupos menores, atividades que beneficiam diretamente as comunidades locais. É uma resposta tanto à demanda de turistas mais conscientes quanto à necessidade de proteger os recursos naturais da região.

Uma ação simples que qualquer viajante pode fazer: quando contratares atividades turísticas, pergunta sempre se parte do dinheiro vai para projetos de conservação local. Os operadores responsáveis ficam contentes por explicar como contribuem para a comunidade. Os que não contribuem ficam desconfortáveis com a pergunta – é uma forma fácil de distinguir.

Informações práticas – o que realmente precisas de saber

Dinheiro: Os ATMs funcionam bem no centro da cidade, mas cobram taxas altas (cerca de 10.000 pesos por levantamento). Leva dinheiro suficiente de Bogotá se possível. Cartões de crédito são aceites em hotéis e restaurantes principais, mas muitas atividades turísticas só aceitam dinheiro. Não há casas de câmbio oficiais – se precisares de trocar dólares, alguns hotéis fazem-no informalmente.

Comunicação: Claro e Movistar têm boa cobertura na cidade, mas o sinal fica fraco nas zonas rurais. Tigo é mais fraco mas mais barato. O WiFi gratuito está disponível na praça principal, biblioteca municipal, e na maioria dos cafés. Para chamadas internacionais, usa WhatsApp – funciona melhor que as chamadas tradicionais.

Saúde: Não são necessárias vacinas específicas além das habituais. Leva repelente de insetos (fundamental) e protetor solar forte. A farmácia Cruz Verde na rua principal está aberta até às 22h e tem medicamentos básicos. O hospital local é adequado para emergências simples, mas casos graves são transferidos para Neiva.

Clima: Leva roupa leve e respirável, mas também uma camisola fina para as manhãs. Chuva é possível qualquer dia do ano – uma capa de chuva leve é essencial. Sapatos impermeáveis são recomendados para trilhos. A melhor época é dezembro-março (menos chuva) e junho-agosto (época seca).

Transporte local: Táxis não têm taxímetro – negocia o preço antes. Percursos dentro da cidade custam 5.000-8.000 pesos. Motos-táxi são mais baratas (3.000-5.000 pesos) mas menos seguras. Para distâncias curtas, caminhar é agradável – a cidade é pequena e relativamente plana.

Florencia ficou comigo (e provavelmente vai ficar contigo também)

Três semanas depois de voltar, ainda sonho com o som da água no Estrecho del Magdalena e com o sabor do café da Doña Carmen. Florencia mudou a minha perspetiva sobre o que significa ser uma “cidade de transição”. Não é um lugar onde passas – é um lugar onde paras, respiras, e deixas que a geografia única te ensine algo sobre adaptação e resistência.

No aeroporto, enquanto esperava o voo de regresso a Bogotá, senti uma melancolia estranha. Não era nostalgia romântica – era o reconhecimento de que tinha descoberto algo especial que não sabia que estava à procura. Florencia não é dramática como Cartagena, não é imponente como Villa de Leyva, não é cosmopolita como Medellín. É honesta, autêntica, e surpreendentemente profunda.

A minha recomendação honesta? Florencia é ideal para viajantes que preferem descoberta a confirmação, que gostam de conversas genuínas com locais, e que não precisam que cada momento seja “instagramável”. Se procuras luxo ou entretenimento constante, provavelmente não é para ti. Se procuras autenticidade e experiências que te fazem pensar, vai reservar já o voo.

Enquanto termino este artigo, já estou a planear voltar. Não para repetir as mesmas atividades, mas para explorar as zonas rurais que não tive tempo de visitar, para participar no festival de música tradicional que perdi, e principalmente para ter mais conversas como a que tive com Don Carlos no trilho do Estrecho.

O conselho mais importante que te posso dar? Não venhas com pressa. Florencia revela-se devagar, como uma amizade que se constrói com tempo. Dá-lhe pelo menos quatro dias, cinco se puderes. E leva sempre uma garrafa de água reutilizável – a Doña Carmen vai agradecer.

Se visitares Florencia, escreve-me nos comentários. Quero saber se o café da Doña Carmen ainda é o melhor da cidade e se o Don Carlos ainda conta histórias no trilho do Magdalena. Algumas experiências merecem ser partilhadas.

Sobre o autor: João dedica-se a partilhar experiências reais de viagem, dicas práticas e perspetivas únicas, esperando ajudar os leitores a planear viagens mais relaxantes e agradáveis. Conteúdo original, escrever não é fácil, se precisar de reimprimir, por favor note a fonte.